O Embaixador de Portugal em Paris, Francisco Seixas da Costa, é autor do blogue "duas ou três coisas", que acompanho com redobrado interesse (http://duas-ou-tres.blogspot.com/). É um homem superiormente inteligente e que tem, como é sabido, um curriculum profissional extraordinário. Escreve num português lindíssimo, e é detentor de uma ironia fina e delicada. Fruto da experiência e vivências acumuladas FSC veste, creio que de forma involuntária, a capa de Senador. Não lhe fica mal.
Há dias escreveu um "post" sobre a diferença de perspectiva em torno do conceito de República existente em França e em Portugal, discorre sobre a diabolização da I República pelo Estado Novo, não deixando de reconhecer o que à luz da historiografia ("democrática") parece ser uma evidência: "os erros que os republicanos cometeram".
Quando se aproximam as comemorações do centenário da República FSC traça um caminho claro, pleno de contornos de ética e de cidadania:
"revisitar e sublinhar todas virtualidades da República, constitui uma tarefa exigente que, durante este ano do seu primeiro centenário, todos os republicanos portugueses serão chamados a fazer, com vigor e sem concessões, denunciando, com frontalidade, os revisionismos da História.
Parece-me uma evidência para mim que a I República falhou com tentativa de regeneração democratizantes do liberalismo monárquico e que a "ditadura" do Partido Democrático foi incapaz de democratizar o sistema político português. A este facto junta-se ainda a inexistência de um «projecto nacional» ou mesmo uma ideia de Estado republicano, mobilizador e viável(F. Rosas). De 5 de Outubro de 1910 a 28 de Maio de 1926 a República conheceu 45 governos e 29 intentonas.
Não creio que Historiadores como Fernando Rosas, Pulido Valente, Severiano de Teixeira, Rui Ramos, Catroga e tantos outros, sejam perigosos agentes do revisionismo e branquedores do legado histórico da I República. Creio que o pior serviço que se poderá prestar a estas Comemorações será erigir novas galerias de heróis, alicerçando a auto-estima e identidade nacional no mito e na descoberta da pedra filosofal. Será preciso, isso sim, aumentar o financiamento das verbas adjudicadas à investigação da História contemporânea. Gostaria que as comemorações da República decorressem com elevação e, se possível, fossem mais estimulantes do que as velhas picardias entre Carlos Ferrão e alguns filhos do Integralismo Lusitano como Mário Saraiva. Quanto aos republicanos mais ferverosos, gostaria que não situassem as suas convicções num patamar de credo confessional. Será pedir muito?
Diz-se que alguém terá perguntado ao PM Chinês Zhou En-Lai o que é que ele achava sobre o significado da Revolução Francesa terá rspondido : "Será preciso aguardar no minimo 200 anos". No nosso caso, creio que 100 anos já são suficientes.
Muito obrigado pelas suas palavras. Mas não me considero um "senador", longe disso. Vou dizendo apenas o que penso...
ResponderEliminarQuanto à República, mais do que defender a herança da I República, interessa-me sublinhar a valia dos seus princípios para a sociedade contemporânea, apoiado no excelente exemplo francês.
Cumprimentos cordiais
Francisco Seixas da Costa
Senhor Embaixador,
ResponderEliminarContinuarei a seguir com interesse renovado o seu blog. Agradeço, com total sinceridade, a frontalidade e o estímulo da sua escrita. Um exemplo de cidadania.
Com elevada consideração,
Francisco Nuñez