quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os festejos da República e as inquietações identitárias

O Embaixador de Portugal em Paris, Francisco Seixas da Costa, é autor do blogue "duas ou três coisas", que acompanho com redobrado interesse (http://duas-ou-tres.blogspot.com/). É um homem superiormente inteligente e que tem, como é sabido, um curriculum profissional extraordinário. Escreve num português lindíssimo, e é detentor de uma ironia fina e delicada. Fruto da experiência e vivências acumuladas FSC veste, creio que de forma involuntária, a capa de Senador. Não lhe fica mal.

Há dias escreveu um "post" sobre a diferença de perspectiva em torno do conceito de República existente em França e em Portugal, discorre sobre a diabolização da I República pelo Estado Novo, não deixando de reconhecer o que à luz da historiografia ("democrática") parece ser uma evidência: "os erros que os republicanos cometeram".

Quando se aproximam as comemorações do centenário da República FSC traça um caminho claro, pleno de contornos de ética e de cidadania:

"revisitar e sublinhar todas virtualidades da República, constitui uma tarefa exigente que, durante este ano do seu primeiro centenário, todos os republicanos portugueses serão chamados a fazer, com vigor e sem concessões, denunciando, com frontalidade, os revisionismos da História.

Parece-me uma evidência para mim que a I República falhou com tentativa de regeneração democratizantes do liberalismo monárquico e que a "ditadura" do Partido Democrático foi incapaz de democratizar o sistema político português. A este facto junta-se ainda a inexistência de um «projecto nacional» ou mesmo uma ideia de Estado republicano, mobilizador e viável(F. Rosas). De 5 de Outubro de 1910 a 28 de Maio de 1926 a República conheceu 45 governos e 29 intentonas.

Não creio que Historiadores como Fernando Rosas, Pulido Valente, Severiano de Teixeira, Rui Ramos, Catroga e tantos outros, sejam perigosos agentes do revisionismo e branquedores do legado histórico da I República. Creio que o pior serviço que se poderá prestar a estas Comemorações será erigir novas galerias de heróis, alicerçando a auto-estima e identidade nacional no mito e na descoberta da pedra filosofal. Será preciso, isso sim, aumentar o financiamento das verbas adjudicadas à investigação da História contemporânea. Gostaria que as comemorações da República decorressem com elevação e, se possível, fossem mais estimulantes do que as velhas picardias entre Carlos Ferrão e alguns filhos do Integralismo Lusitano como Mário Saraiva. Quanto aos republicanos mais ferverosos, gostaria que não situassem as suas convicções num patamar de credo confessional. Será pedir muito?

Diz-se que alguém terá perguntado ao PM Chinês Zhou En-Lai o que é que ele achava sobre o significado da Revolução Francesa terá rspondido : "Será preciso aguardar no minimo 200 anos". No nosso caso, creio que 100 anos já são suficientes.

2 comentários:

  1. Muito obrigado pelas suas palavras. Mas não me considero um "senador", longe disso. Vou dizendo apenas o que penso...

    Quanto à República, mais do que defender a herança da I República, interessa-me sublinhar a valia dos seus princípios para a sociedade contemporânea, apoiado no excelente exemplo francês.

    Cumprimentos cordiais

    Francisco Seixas da Costa

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  2. Senhor Embaixador,
    Continuarei a seguir com interesse renovado o seu blog. Agradeço, com total sinceridade, a frontalidade e o estímulo da sua escrita. Um exemplo de cidadania.
    Com elevada consideração,
    Francisco Nuñez

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