terça-feira, 15 de março de 2011

O Sonho do Celta - um Vargas Llosa menos feliz

Mário Vargas Llosa é um escritor excepcional e o Nobel fica-lhe bem.

Admiro-lhe a coragem política e o lado  de "enfant terrible".  Mas creio que, de forma voluntária ou involuntária, MVL padece de um sindroma incurável:  o "excesso" de produção literária. Pressao das editoras, falta de distanciamento crítico, soberba?  

O Sonho do Celta, o seu último romance, "soube-me a pouco".

Este romance biográfico aborda a vida do diplomata Roger Casement, um dos heróis do nacionalismo irlandês. Casament é uma personagem interessante. Denunciou com coragem o esclavagismo no Congo e Amazónia e, durante a I Guerra, conspirou com a Alemanha, o que lhe valeu uma acusação de traição por parte do Governo de SM. como mandava o figurino na época foi enforcado. 

Nao é preciso ser um génio, ou um profundo conhecedor do percurso biográfico de Casament, para perceber que foi precisamente a condição de homossexual que contribuiu para que só tardiamente entrasse na "galeria dos heróis" irlandeses.

MVL "serve-se" desta personagem como ponto de partida para reflectir sobre a violência do colonialismo europeu, traçando um perfil do "herói" feito do gosto pela aventura e preocupacoes humanistas, não emitindo juízos de valor sobre a sua homossexualidade e supostas práticas pedófilas.

No final, MVL brinda-nos com um suposto caminho de "conversão" do diplomata irlandes ao catolicismo. Passamos do inferno do Congo e da Amazonia para o caminho da luz que se comeca a desenhar num cárcere britanico. Das trevas para a luz e para redencao. Um catolicismo que se funde no mais profundo nacionalismo e que é uma forca de resistencia ao Império britanico.

Para ser franco, creio que nem o leitor mais devoto e paciente aguenta uma viagem tao atribulada.
O Sonho do Celta fica muito aquém do folgo e rasgo de Conversas na Catedral ou mesmo das Travessuras da Menina Má. Trata-se de um livro impressionista, com partes muito desiguais.  Um livro sem golpe de asa.

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