Em casa dos meus Avós não se falava, ou falava-se muito pouco, de política. Lembro-me de ver uma fotografia da condecoração do Avô pelo Almirante Américo Tomaz. Todos nós sabiamos que tinha sido reformado "compulsivamente" da SACOR com menos de sessenta anos. Os "porquês" desta decisão sempre foram um assunto tabu. Para muitos homens da sua geração era o princípio do fim. Não foi excepção.
Nessa altura apenas me competia obedecer, embora tivesse criado uma aversão, provavelmente ingénua, a esta frase. Acreditava ainda em modelos de sociedade baseadas no mérito e nas capacidades de cada um. O "berço", os contactos pessoais da família e tudo o resto passariam a ser meros adereços de chapelaria.
A vida devia ser uma espécie de "american dream", achava eu. Aplica-te, mostra o que vales e a "mão invisivel" acabará por te dar o que mereces! As chefias e a liderança aos melhores, mais sérios e mais competentes. Com um bocadinho mais de leitura, fui percebendo no que é que davam os governos de matriz tecnocrática.
Ainda hoje, quando alguém passa o almoço a percorrer exaustivamente os feitos gloriosos dos seus antepassados (levando-se muito a sério) gosto de soltar uma farpazinha: "e tu o que é já fizeste de jeito na vida?"
Sem alimentar saudosismos serôdios (ou paixões estéticas) constato, com tristeza, que o Avô tinha razão. Mas, em democracia, esperariamos todos que alguém pusesse termo a esta nova versão caciquista do "manda quem pode": analfabeta, serôdia, sem escrúpulos. A corrupção está sempre na ordem do dia. Cansa.
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