sábado, 7 de novembro de 2009

"Noite, vem noite sobre mim sobre nós ..."

Em 1993-1994, não me recordo ao certo, visitei a Casa de Saúde do Telhal. Tive o grato privilégio de conhecer António Gancho, aquele que alguém viria a designar como o "poeta esquecido".

Num pose algo aristocrática e a distância razoàvel dos seus companheiros de infortúnio (ou não) falou-me da sua costela alentejana (nasceu em évora em 1940), das tertúlias do surrealismon e do Café Gelo.

Desabafou-me, como se nos conhecessemos de longa data, que por vezes sentia que era Camões, Bocage ou Pessoa. Moveu-me um enorme respeito e consideração por este homem irrequieto, sempre com papéis debaixo do braço e com um olhar perdido.

Visitei o seu quarto onde me confidenciou: "Não diga a niguém, mas anda aqui uma enorme conspiração: estes senhores roubaram-me 30 pares de meias". Consegui transmitir-lhe alguma calma e acabamos por passear nos jardins da casa de saúde. Nessa altura fez-se certa em mim a frase de Mário de Sá Carneiro (que cito de memória) que : "a loucura é tudo uma questão de proporção aritemética".

Em boa hora a Assírio & Alvim publicou (1995) aquela que é considerada a grande obra de António Gancho, "O Ar da Manhã". Mais tarde (2007) saíu, pela mesma editora, "As diopetrias de Elisa"

Por vezes tenho saudades de António Gancho, poeta tristemente esquecido. Este homem que o pintor Alvaro Lapa descreveu como "um homem de grande lucidez poética".

Chuva na calçada

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