sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Hoje acordei com 1,98


"- Olá! Bem vinda à nossa aula de hidro-ginástica. O melhor é sair dessa parte mais funda. Venha para aqui. Luísa, quanto é que você mede?
- Tenho 1,55, mas por vezes acordo com 1,98"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Segredos de alfarrabistas



Boa tarde D. Mariana, queria levar este livro Sff. 5 Euros não é verdade?

- Ora, "Segredos de El Rey D. João I".... Bom, se é "segredos" deve ser mais caro!!!

(Conversas em alfarrabistas)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A um passo da morte



Há uma semana atrás, o EL PAIS publicou com uma longa entrevista intitulada "A un paso de la muerte". Uma crónica extraordinária de Álvaro de Guinea que retrata a vida de 21 sobreviventes dos corredores da morte nos EUA que se reunem com regularidade em Alabama. Têm uma coisa em comum:  eram e são todos inocentes.  Impressionou-me a história de Derrick Jamison que esteve preso durante 20 anos, 17 dos quais no corredor da morte. DJ é citado em discurso directo "Estive a uma hora de ser executado, apenas a uma hora de estar morto, uma hora para ser assassinado. Entendes o que estou a dizer? Estive apenas a uma hora de ser morto!".

Ninguém lhes poderá devolver os anos perdidos. Infelizmente, os inocentes executados continuam sem poder assistir a estas reuniões. Só o grupo dos "21" percebe o sentido da viagem ao inferno, mais ninguém. Este caminho de entendimento está-nos vedado, quer estejamos a pensar nos milhares de homens e mulheres executados nos EUA, na China, na Ásia ou em Africa. É a vergonha dos tempos modernos, para culpados ou inocentes. Em qualquer dos casos, quando o homem se torna num semi-deus não existe a possibilidade de ressureição. Alguns destes mortos-vivos devem rever nos seus piores pesadelos os passos dos carrascos da morte. Outros, revisitam nas noites de insónia o dia em que assinaram a ordem de execução.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Altolaguirre




Manuel Altolaguirre foi uma figura emblemática da geração de 27, em  Espanha. Uma fada ibérica, com coração d'oiro, que conhece a minha paixão por memórias e livros de correspondência, ofereceu-me recentemente "Manuel Altoalaguirre, espistolário 1925-1959, epistolário" , Publicaciones de la Residencia de Estudiantes. É uma daquelas relíquias que apetece guardar num estojo de veludo.

Uma das obras mais representativas da produção de MA foi "Litoral", que ficou conhecido essencialmente como um assíduo colaborador de revistas de poesia. Não sendo um profundo conhecedor da sua obra, creio que a vida que levou foi o seu grande feito poético e é isso que me delicia nesta obra de correspondência. Com a Guerra Civil partiu para o exílio, tendo passado por París, Cuba e México, onde fez incusões muito interessantes pelo mundo cinéfilo. Como guionista, ganhou em 1952 o Premio do melhor argumento no Festival de Cannes e a "Águila de plata" no México, com  o filme "Subida al cielo", dirigida pelo seu amigo Luis Buñuel. En 1959 regressou a Espanha para apresentar um filme em San Sebastián. Morreu em Burgos, num a acidente de automóvel. Teve uma vida cheia, a 8 mm. Aqui deixo um dos seus poema mais célebres.

Playa


Las barcas de dos en dos,

como sandalias de viento

puestas a secar al sol.

Yo y mi sombra, ángulo recto.

Yo y mi sombra, libro abierto.

Sobre la arena tendido

como despojo del mar

se encuentra un niño dormido.

Y la estela de su marcha

abierta al igual que un libro.

Y yo, leyendo en los muros

del ángulo de su huida

los imposibles estímulos.

(Las islas inventadas)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Senhora Lautsie e o Cristo que lhe rendeu uns milhares de euros



Por estas bandas, entretidos com tanta coisa importante, quase ninguém prestou atenção à setença que o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem emitiu contra a exposição de crucifixos em escolas públicas italianas, num caso que ficou conhecido como "Lautsie contra Itália".

O assunto pode ser resumido em poucas palavras. O TEDH determinou que o Governo italiano deveria pagar uma indeminização de 5 mil euros por danos morais infligidos à Senhora Soile Lautsi, cidadã italiana de origem finlandesa. Lautsi apresentou um recurso no TEDH após o instituto público "Vittorino da Feltre", na província italiana de Pádua, frequentado pelos seus filhos, se ter negado, em 2002, a retirar os crucifixos das salas de aulas frequentadas pelos seus filhos. No essencial, o TEDH entendeu que a presença de um crucifixo constituia "uma violação [dos direitos] dos pais em educar aos filhos segundo as próprias convicções" e uma "violação à liberdade de religião dos alunos".

Como é sabido, a Itália é um dos países com maior número de católicos, sendo que mais de 96% dos cristãos do país, que chega a 80% da população, se definem como católicos apostólicos romanos. A ministra italiana da Educação, Mariastella Gelmini, defendeu a representação católica nas instituições de ensino, afirmando que a presença dos objectos religiosos "não significa adesão ao catolicismo, mas é um símbolo da nossa tradição".

O TEDH é, indiscutivelmente, o principal pilar do Conselho da Europa e um garante do respeito pelos direitos, liberdades e garantias. Na sequência da entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a U.E. passará a fazer parte da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, alargando-se as competências e protecção garantida pelo Tribunal. Trata-se, naturalmente, de uma enorme conquista para os europeus.

Resta ainda conhecer os termos e o desfecho do anunciado pedido de recurso por parte de Itália. Mas uma coisa é certa, este caso irá contribuir para a criação de maiores clivagens na Europa, numa altura em que se fala e apregoa a Aliança de Civilizações, que tem como Alto Representante o Dr. Jorge Sampaio.

Ao que tudo indica, o modelo de laicismo francês conquistou o Tribunal de Estrasburgo. E as inquietações suscitadas por este processo, partilhadas por muitos amigos laicos, ultrapassa em muito a animosidade que me move contra o actual Governo italiano.

Dentro de pouco tempo será proibido que um muçulmano, judeu ou cristão ande a passear pelo Chiado com algum simbolo que identifique o seu credo religioso, de forma a que não ofenda os seus concidadãos.

Resta-me desejar rápidas melhoras à Senhora Lautsie e que recupere rapidamente do trauma causado pelo Nazareno.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os festejos da República e as inquietações identitárias

O Embaixador de Portugal em Paris, Francisco Seixas da Costa, é autor do blogue "duas ou três coisas", que acompanho com redobrado interesse (http://duas-ou-tres.blogspot.com/). É um homem superiormente inteligente e que tem, como é sabido, um curriculum profissional extraordinário. Escreve num português lindíssimo, e é detentor de uma ironia fina e delicada. Fruto da experiência e vivências acumuladas FSC veste, creio que de forma involuntária, a capa de Senador. Não lhe fica mal.

Há dias escreveu um "post" sobre a diferença de perspectiva em torno do conceito de República existente em França e em Portugal, discorre sobre a diabolização da I República pelo Estado Novo, não deixando de reconhecer o que à luz da historiografia ("democrática") parece ser uma evidência: "os erros que os republicanos cometeram".

Quando se aproximam as comemorações do centenário da República FSC traça um caminho claro, pleno de contornos de ética e de cidadania:

"revisitar e sublinhar todas virtualidades da República, constitui uma tarefa exigente que, durante este ano do seu primeiro centenário, todos os republicanos portugueses serão chamados a fazer, com vigor e sem concessões, denunciando, com frontalidade, os revisionismos da História.

Parece-me uma evidência para mim que a I República falhou com tentativa de regeneração democratizantes do liberalismo monárquico e que a "ditadura" do Partido Democrático foi incapaz de democratizar o sistema político português. A este facto junta-se ainda a inexistência de um «projecto nacional» ou mesmo uma ideia de Estado republicano, mobilizador e viável(F. Rosas). De 5 de Outubro de 1910 a 28 de Maio de 1926 a República conheceu 45 governos e 29 intentonas.

Não creio que Historiadores como Fernando Rosas, Pulido Valente, Severiano de Teixeira, Rui Ramos, Catroga e tantos outros, sejam perigosos agentes do revisionismo e branquedores do legado histórico da I República. Creio que o pior serviço que se poderá prestar a estas Comemorações será erigir novas galerias de heróis, alicerçando a auto-estima e identidade nacional no mito e na descoberta da pedra filosofal. Será preciso, isso sim, aumentar o financiamento das verbas adjudicadas à investigação da História contemporânea. Gostaria que as comemorações da República decorressem com elevação e, se possível, fossem mais estimulantes do que as velhas picardias entre Carlos Ferrão e alguns filhos do Integralismo Lusitano como Mário Saraiva. Quanto aos republicanos mais ferverosos, gostaria que não situassem as suas convicções num patamar de credo confessional. Será pedir muito?

Diz-se que alguém terá perguntado ao PM Chinês Zhou En-Lai o que é que ele achava sobre o significado da Revolução Francesa terá rspondido : "Será preciso aguardar no minimo 200 anos". No nosso caso, creio que 100 anos já são suficientes.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tempo de dar e receber

Ontem um "irmão de beliche" ofereceu-me a sua Nikon D80.

- "Para dares largas à tua imaginação. Comprei a D90", disse.

- "Manucho, para mim é como se me oferecesses uma Leica e ainda por cima o bicho já vem ensinado. De certeza que não a queres dar à Joana?"

Ficamos sempre desarmados e comovidos com um presente fora de época. Há bastante tempo que me venho a treinar na arte de receber.  Recordo-me que há uns aninhos atrás ofereci um isqueiro a um pastor alentejano no Cano, ali para os lados de Sousel,  e este, meio atrapalhado e com a inocência de quem se habituou a falar com lebres e ovelhas, estendeu-me um cajado que ainda guardei durante uns meses.

Hoje confiei a minha Nikon D40X ao meu cunhado. Parecia um miudo pequeno com o brinquedo novo nas mãos. A quem é que irá passar a Fuji?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Café Gijon

O Café Gijón continua a ser um dos locais mais emblemáticos de Madrid. Segundo reza a história abriu portas em 1888, mantendo-se desde então associado às tertúlias e encontros de artistas, actores e escritores. Ainda é possível encontar ali, junto à porta de entrada, uma placa que, em português escorreito, soa mais ou menos assim:  "Aqui, Alfonso, vendedor e anarquista, vendeu tabaco e viu o mundo passar". Homenagem da casa.

A X sugeriu-me que entrassemos em grande estilo. Ajeitei o cachecol, empinei o charuto e mudámos as nossas vidas.

Devias tentar a tropa

"- A coisa tá preta! Nada de trabalho e muito pouco dinheiro. Este Natal só visto. Como é que dá para casarmos?
- Devias tentar a tropa. O Zé disse que a malta que está a ir para fora está a tirar para cima de 600 contos!

- Sim, mas eu gosto de manter o casaco conservado. Não dá para tar a pôr o coiro em risco"

(conversa nos serviços centrais de registo civil de Lisboa)

domingo, 3 de janeiro de 2010

Delírios de Zapatero

A Presidência Espanhola da U.E. está aí. Com uma taxa de desemprego a rondar os 20% e com o Tratado de Lisboa a reduzir significamente a importância deste exercício, o PM socialista irá tentar tirar dividendos a nível interno. Não se compreende como é que terá condições para liderar o processo de consolidação da política fiscal da União, com a necessária redução do déficit, quando as finanças públicas do seu país se encontram num descalabro. Querer ficar para a história como o homem que liderou o velho continente na saída da crise parecerá uma anedota. Como alguém recordava, importará que tenha presente que a presidência de Gonzalez da U.E coincidiu com o fim do filipismo. Veremos como é que a Europa se dará com os delírios de grandeza de Zapatero. Ao que parece, "nuestros hermanos" já não o podem nem ver. Mas, lá como cá, as oposições continuam em permanente "delitro".