segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Suite française de Irène Némirovsky




Irène Némirovsky, judia de origem ucrâniana, foi presa em 1942. Viria a morrer em Auschwitz. O seu livro de anotações (contendo duas novelas) foi guardado pelas suas filhas e publicado em 2004, com o título de Suite française.

Escrito na espuma da história, observamos o retrato da França pós 1940 e o exôdo dos parisienses. É toda uma população à deriva, os pobres e os burgueses, com os defeitos e os trejeitos da sua circunstância e condição. Num segundo momento passamos para uma pequena cidade de provincia, Bussy, onde a população é obrigada a acolher o exécito alemão.

domingo, 29 de novembro de 2009

Rumo a Bruxelas

Amanhã rumo até Bruxelas, para um encontro de observadores eleitorais da U.E. O bilhete foi oferecido, o que nos tempos que correm "sabe a pato". E é optimo saber que tenho alguém à minha espera. À noite vou jantar com um amigo de longa data que se encontra numa fase complicada. Tem dois filhos, uma mulher fantásticas e um lugar invejável numa organização internacional. Creio que está cheio de malaise belga. Para uma alma insular, 3 anos é, muito provalmente, o tempo limite. Viajante incansável, o X está com vontade de fazer as malas, preparar a tribo, e embarcar para uma nova aventura. Pareceu-me muito triste ao telefone. Tentarei ser um bom ouvinte. De que é que um homem precisa para ser feliz?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

De combóio

Vou de combóio!

Em miúdo, uma parte das "férias grandes" era passada em Tomar, em casa dos meus Avós. A viagem de combóio tinha um ritual próprio. Iamos com a roupa de ver a Deus, meticulosamente penteados (um risquinho de esquadria) e levávamos um farnel que era gerido pela minha irmã Maria. Por vezes faziamos essa viagem com alguns primos, Manel e Catarina, com quem nos reencontravamos nas férias de Verão e no Natal. A viagem era longa, creio que nessa altura o combóio ainda fazia paragem em todos os apiedeiros. Lembro de ouvir uma voz estridente que anunciava a nossa chegada às estações de Vila-Franca, Santarém e Entroncamento. Debruçavamo-nos nas janelas e viamos um batalhão de pessoas a embarcar com malas, sacos e garafões de vinho. Em Santarém entravam magálas a granel. Faziam uma algazarra dos diabos. Bebiam cervejas, fumavam e metiam-se com todas as miúdas que aparecessem pela frente.
Chegados a Tomar, aguardava-nos o "Senhor Graça", choffeur de Praça que os meus Avós haviam promovido a motorista da família há mais de 15 anos. O Senhor Graça, tinha uma barriga considerável e nunca se desfazia de uma boina aos quadrados esverdeada. Os seus préstimos eram utilizados na ida às compras e idas ao médico e, não menos importante, para ir buscar os visitantes de Lisboa. Nessa altura, ser da capital era como jogar na Champions League. As pessoas olhavam-nos de alto a baixo e quase que nos deixavam passar à frente em tudo o que era sítio.

E lá estava ele às 18.30, sempre pontual, com o seu mercedes verde e preto a brilhar à porta da Estação. No porta bagagem arrumávamos as espingardas de pressão de ar, embrulhadas em papel pardo, as canas de pesca e as malas.

Quando iamos só rapazes no carro a viagem era mais divertida. O Graça fazia 3 paragens em tabernas até à fabrica de papel do Prado. Entregava encomendas e oferecia-nos umas tacinhas de branco que tinhamos que virar de um só trago, com o dedinho esticado, a emitar o artista. Batia com as moedas com toda a força contra a bancada de marmore encardido e pedia uma nova rodada "para mim e para estes senhores". Era uma espécie de rito iniciático, para meninos "copos de leite" que tinham entre os 12 e os 15 anos. Demorávamos mais ou menos 1.30 a fazer 30 kms.


Como não devia querer sarilhos com a minha Avó, também eramos presenteados com umas pastilhas gorila. Como é óbvio, nunca quebrámos este pacto de silêncio e riamo-nos das estorietas picantes do Graça e das escarretas que amandava pela janela, enquanto passava um paninho verde pelo tabelier.

Chegados ao nosso destino, entregava-nos à nossa Avó, que nunca desconfiou dos nossos olhinhos brilhantes, e depositava nas mãos do meu Avô o Jornal de Tomar, O DN e os desportivos. Era o início de uma grande aventura.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Regressar

Barecode

Perdi tudo. O meu gestor anunciou-me o óbito sem morte nem campa para visitar. Passei a tarde às voltas na cidade. Creio que andei sempre em círculo, como na vida. Cruzei-me com alguns dos meus funcionários. Não fui capaz de os cumprimentar. Que se lixem e não me chateiem o juízo! O pior será ir para casa e ouvir os planos da Marta para os nossos 15 anos de casados. Não choro, não me ocorrem sentimentos de revolta ou arrependimento. Sinto uma indiferença que se instala dentro de mim. Vou alugar um quarto em Campo de Sena, com vista para o lago. Preciso de um copo e de dormir. Dou por mim a pensar que talvez possa ter um ataque cardíaco fulminante durante a noite. Como tenho um seguro de vida parto de consciência tranquila. Afinal de contas os miúdos já estão crescidos.

Passeios na Baixa

Saturday

Desata a chover e é tempo de partir. As arcadas do Terreiro do Paço continuam a ser um excelente porto-de-abrigo. Vende-se muita pulseira, missanga e inutilidades caseiras em frente à estátua do D. José. Como anfitrião da cidade, digo que as obras estão praticamente a terminar e ainda espreitamos o Martinho.

Passeios na Baixa

Gitana (Roma)

A um mês do Natal ainda é possível circular na Baixa de Lisboa. Quem me acompanha faz questão de entrar numa conhecida loja masculina na rua do Ouro para disputar sapatos a patáco. Aguardo à porta e assisto, com um sorriso malandro, a uma disputa cerrada entre espanhóis e italianos. Não quero saber qual é que foi o desfecho da contenda. Concentro-me na vendedora ambulante de castanhas (2 euros a dúzia). Esta cigana, de terço ao pescoço, interrompe a sua venda de pensos rápidos e do Borda d'Água para tentar negociar um preço mais simpático.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tribute to John Wayne

Tribute to John Wayne

Acrílico.

John Wayne marcou muito a minha infância. Tinha uma altura e um caparro imponente, defendia sempre os fracos e oprimidos e virava wiskys como quem bebe sumo de laranja. Como lhe competia, disparava como se não existisse amanhã.

Entre os meus favoritos encontram-se :Rio Vermelho", "O homem que matou o facínora", "Rio Bravo", "Álamo" e "El Dorado".

Em 1969 ganhou um óscar com o filme "Bravura indomita", de Henry Hathaway. Nessa altura já contava com 40 anos de carreira. Mas foi pela mão do mágico John Ford que saiu do anonimato e passou para a champions league.

Neste parceria com o mestre americano, que marcou o Western clássico, surgiram filmes como: "Rio Grande" (1950), "Depois do Vendaval" (1952), "Rastos de Ódio" (1956), (1962), "Sangue de Herói", "Legião Invencível", "Rio Grande", "O céu mandou alguém", "Asas de Águia", "Marcha de Heróis", entre outros.

Durante 50 anos de carreira contracenou com: Henry Fonda, Katharine Hepburn, James Stewart, Sophia Loren, Kirk Douglas, Marlene Dietrich, Rock Hudson, Robert Mitchum, Lee Marvin, entre outros. Não sei alguma vez terá chegado a cavalgar ao lado de Ronald Reagan.

O polémico filme "Os boinas verdes" (1969), sobretudo por causa da Guerra do Vietname, nunca me disse muito.

Ao que parece JW morreu em 1970 com um cancro do pulmão, a doença dos homens do velho oeste. Dizem que tinha um chapéu de cowboy enfiado na cabeça.

“Life is hard; it's harder if you're stupid.”

Amadeo

Óleo. Pintura sobre fotografia.

Amadeo

Passeio

Acrílico.

Passeios de outro tempo

A outra vida



Nada como chegar a casa, despir o fato e tirar a gravata. Os botões de punho regressam à gaveta, põe-se uma t-shirt e nasce uma nova pessoa. Aos poucos, os telefonemas, as conversas de circunstância, as reuniões e os mil afazeres burocráticos vão ganhando distância. Há então lugar para uma nova vida. É o tempo de abrir uma mini, ajeitar a almofada do sofá e vêr um bom jogo de futebol (o que vai sendo raro). Nos dias mais inspirados põe-se a rodar um bom disco de John Coltrane, Ben Webster, Sonny Rollins, ou o menino Brendel se estiver a chover.

Também há lugar para um bom romance. Tudo menos noticiários de faca e alguidar, com HN1, corrupção e crime `a mistura. Fico-me pelos jornais que, devidamente digeridos, vou empilhando num cestinho adoentado.

É muito bom renascer assim ao final do dia.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Os primos Monteiro na Volta a Portugal

O programa mais espectacular do Verão era a volta a Portugal em bicicleta ou, para ser mais preciso, a prova na Serra da Estrela. Dois ou três dias antes preparavam o fogareiro, o material de campismo, as rações de combate e faziam-se à estrada.

Os 3 primos metiam-se no velho carocha do Avô, que já não estava em condições para guiar, e repartiam as despesas de gasolina. Não adoravam a modalidade e até subscreviam aquela frase de gosto duvidoso afixada em azulejo azul e branco no café Esmeralda: "o ciclismo é o único desporto em que o burro pedala sentado".

Conheciam detrás para frente as equipas da Sicasal Lacrau, Ramiro Bom Petisco, Garcia Joalheiro, os apetrechos das bicicletas (carretos, pedais, bancos, rodas), os nomes dos treinadores e preparadores físicos. A missão tinha um objectivo muito particular: insultar o Venceslau Domingues Fernandes, natural de Perosinho, e testar os limites da sua paciência e determinação.

No longínquo ano de 85, o "Velho Lau" contava já com 39 anos e não fazia sentido que andasse a dar bigodes à malta mais nova. Os primos Monteiro tinham fotografias do ciclista na garagem do Avô (com óculos e chifres desenhados a ponta de feltro) e sabiam de gingeira que ele já tinha andado por equipas como o Porto, Benfica de Luanda, Ambar, Ajacto, Sangalhos, Aldoar, Leixões e Académico do Porto.

Todos os anos repetiam a mesma gracinha. Quando o Venceslau chegava ao ponto mais alto do Pêgo do Lobo, deixado de um calor tórrido de 40 graus, sem poder com uma gata pelo rabo, rodeavam o atleta e corriam a praticamente um palmo de distância.

Começavam então a chamar-lhe todo o tipo de palavrões: "és um frouxo, um velho, filho da p., o teu pai é um grande paneleiro, não vais conseguir!!!"

O Lau começava com a bicicleta aos "esses" e, práticamente desidratado, lá lhe saía um "deixem-me malandros, dou cabo de vocês". Era a altura em que o camisola amarela era apanhado pelo pelotão e os Monteiros davam à sola.

Nesse ano, e para grande desconsolo destes 3 mosqueteiros, o Venceslau venceu a Volta a Portugal. VF terminou a sua carreira com 46 anos de idade, e conseguiu ainda obter umas classificações mais modestas, um segundo, terceiro, quarto, sexto, sétimo, oitavo e 3 nonos lugares.

Nos anos seguintes, os Monteiro de Coimbra mantiverem sempre a tradição de ir até à Serra, simplesmente para insultar e desmoralizar o velho ciclista.


Capitães da areia a preto e branco

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A indiferença

"Detesto os homens que diante da morte conservam uma indiferença que não compreendo nem explico. Porque ou a morte é o nada, ou início de outra vida superior. Seja o que for põe-se o pé em falso num abismo. Só a estupidez ou a inconsciência olham sem temor essa hora suprema. Quanto melhor compreendo os que gemem baixinho (...) ou mesmo os que numa angústia se enchem dum pavor sagrado!"
Raul Brandão, Memórias

Cryptography

Já não há heróis

De há uns anos a esta parte os heróis foram recambiados para o fundo de desemprego.

Veja-se o que se passa com a BD ou com uma certa vaga de cinema europeu e norte-americano. O protagonista não raras vezes é um homem fraco, cobarde, com defeitos de carácter, disposto a enganar os melhores amigos, a namorada e a família em nome da sobrevivência ou do sucesso. Com um embrulho de "fast-food" é vendido de forma acrítica e amoral. E no final acabamos por simpatizar com a figura, dada a sua proximidade com o comum dos mortais. É uma espécie "anti-herói" simpático, esperto e desenrascado. A receita ideal.

Em poucos anos, passámos meteoricamente de uma apologética dos heróis (vide Estado Novo, I República e/ou Monarquia Constitucional) para um pós-modernismo acéptico e descartável, sem espaço para virtudes e feitos notáveis.

Desconhecendo quando irá terminar este exercício de desconstrução (que tem aspectos profilácticos, reconheço), importa conhecer o impacto que o mesmo terá nos alicerces da maioria dos Estado Europeus. Será que alguém ainda acredita que a memória e a identidade podem viver sem o mito?

Recentemente, em troca de impressões com amigos sobre Aristides Sousa Mendes, alguém trouxe à colação o facto do Cônsul em Bordéus ser “usado” (e abusado) como uma arma de arremesso contra o Estado-Novo, em detrimento do seu papel na fuga dos judeus para Portugal.

Confesso que não disponho de informações detalhadas sobre a vida do Cônsul e nunca tive oportunidade de ler as mais recentes biografias que vieram ao prelo. Mais conhecedores da vida de Sousa Mendes do que eu, e mais avessos aos heróis de esquerda e de direita, estes amigos chamaram-me a atenção para certos aspectos menos luminosos da sua vida: processos disciplinares movidos pelo MNE, alguma condescendência de Salazar a propostas do conselho disciplinar, relatos dos Embaixadores Carlos Augusto Fernandes e Hall Themido, etc.

Para a história ficam cerca de 30.000 vistos emitidos a judeus perseguidos pelo regime nazi e o reconhecimento do Yad Vashem.Para aligeirarmos a conversa, e fartos de nos levarmos demasiado a sério, concluímos que o maior trunfo deste monárquico católico (por esta ordem, ou pela ordem inversa) foi o facto de ele, com a colaboração da sua mulher Angelina, ter sido pai de 14 filhos.


Esteira

domingo, 15 de novembro de 2009

Gilberto Gil, the String Concert, BRUSSELS




Gilberto Gil em grande no Palais des Beaux-Arts, em Bruxelas, com Jacques Morelenbaum (Cello) e Bem Gil (Viola). Num formato acústico intimista, desprovido de percussão - o que na música brasileira poderá soar a hamburguer light - , o sexagenário, acompanhado do seu filho Bem, arrasou o xangô e deu cor a esta cidade eternamente cinzenta.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Prisão domiciliária

Ficar em casa com uma gripalhada é um transtorno imenso. Não tenho vontade de fazer nada. Um bom livro, um filme, um bom disco, perdem todo o interesse. Passo a estar concentrado nas horas a que tenho que tomar o antibiótico e a zelar pela provisão de lenços. Os telefonemas do trabalho aborrecem. Por vezes fica no ar uma suspeita de que não acautelámos isto ou aquilo.

Em miúdo, normalmente em época de exames, era um excelente praticante do termómetro aquecido no candeeiro. Entretinha-me na casa vazia com as minhas bandas-desenhadas e os westerns. Era o rei da casa. Com um bocadinho de sorte, ao fim do dia ainda podia ser contemplado com uns pacotes de cromos e umas BDs. Hoje em dia, talvez fruto da minha educação, fico com um pequenino sentimento de culpa.




Sombras sem metafísica

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Africa.Cont Concert Lisbon

Acreditas em mim?

Acreditas em mim?

Dias difíceis

Ressaca

Carta de guia de casados

Special days

“aquela sua agilidade no perceber e discorrer em que nos fazem vantagens é necessário temperá-la com grande cautela”. Francisco Manuel de Melo defende, por isso, que a mulher não deve cultivar demasiado a sua inteligência e que os únicos livros a ela adequados são “a almofada de coser”. Ao homem, cabe ser sério, fugir dos vícios e dedicar-se ao lar e à esposa. São perdoados alguns deslizes do marido,sendo dados alguns conselhos em relação aos filhos bastardos.

Alguns dos provérbios desta obra ficaram famosos, como o “Que Deus me guarde de mula que faz him e de mulher que sabe latim”.

Sente-se e abra a sua alma

Please have a sit

terça-feira, 10 de novembro de 2009

[Mercearia]

- ora então leva um maço de tabaco, meia dúzia de ovos e as clementinas, não é verdade? Estão muito boas... docinhas! As laranjas ainda estão ácidas. Não lhe recomendo. Amanhã ou depois já tenho cá o Pall Male azul que o Senhor gasta.

- Obrigado.

Ao meter as compras no saco o senhor Fernando começou a fazer pequenas acrobacias com o maço de tabaco, contemplou o electrocutor de insectos e desatou a filosofar:

- Eu nunca me deu para fumar. Vivia em Luanda com a minha família e tinhamos duas fábricas de cerveja em Luanda. Conhece Luanda? (abanei a cabeça). Vendia cigarros à unidade aos negros e aos brancos com apenas 15 anos, mas nunca, nunca me deu para experimentar, acredite! A minha Mãe disse-me que fazia mal à saúde e foi remédio santo. Nunca peguei num cigarro. Tem muita importância dar atenção a estas frases na infância, não acha?

- Sorte a sua, faz mal à carteira. Até amanhã.

Évora

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Manda quem pode

"Manda quem pode, obedece quem deve". Recordo-me de ter ouvido o meu Avô repetir esta velha máxima salazarista. Não sei se a terá utilizado com sarcasmo ou ironia, nem nunca cheguei a perceber qual é que era o seu posicionamento político.

Em casa dos meus Avós não se falava, ou falava-se muito pouco, de política. Lembro-me de ver uma fotografia da condecoração do Avô pelo Almirante Américo Tomaz. Todos nós sabiamos que tinha sido reformado "compulsivamente" da SACOR com menos de sessenta anos. Os "porquês" desta decisão sempre foram um assunto tabu. Para muitos homens da sua geração era o princípio do fim. Não foi excepção.

Nessa altura apenas me competia obedecer, embora tivesse criado uma aversão, provavelmente ingénua, a esta frase. Acreditava ainda em modelos de sociedade baseadas no mérito e nas capacidades de cada um. O "berço", os contactos pessoais da família e tudo o resto passariam a ser meros adereços de chapelaria.

A vida devia ser uma espécie de "american dream", achava eu. Aplica-te, mostra o que vales e a "mão invisivel" acabará por te dar o que mereces! As chefias e a liderança aos melhores, mais sérios e mais competentes. Com um bocadinho mais de leitura, fui percebendo no que é que davam os governos de matriz tecnocrática.

Ainda hoje, quando alguém passa o almoço a percorrer exaustivamente os feitos gloriosos dos seus antepassados (levando-se muito a sério) gosto de soltar uma farpazinha: "e tu o que é já fizeste de jeito na vida?"

Sem alimentar saudosismos serôdios (ou paixões estéticas) constato, com tristeza, que o Avô tinha razão. Mas, em democracia, esperariamos todos que alguém pusesse termo a esta nova versão caciquista do "manda quem pode": analfabeta, serôdia, sem escrúpulos. A corrupção está sempre na ordem do dia. Cansa.

In a hurry

sábado, 7 de novembro de 2009

"Noite, vem noite sobre mim sobre nós ..."

Em 1993-1994, não me recordo ao certo, visitei a Casa de Saúde do Telhal. Tive o grato privilégio de conhecer António Gancho, aquele que alguém viria a designar como o "poeta esquecido".

Num pose algo aristocrática e a distância razoàvel dos seus companheiros de infortúnio (ou não) falou-me da sua costela alentejana (nasceu em évora em 1940), das tertúlias do surrealismon e do Café Gelo.

Desabafou-me, como se nos conhecessemos de longa data, que por vezes sentia que era Camões, Bocage ou Pessoa. Moveu-me um enorme respeito e consideração por este homem irrequieto, sempre com papéis debaixo do braço e com um olhar perdido.

Visitei o seu quarto onde me confidenciou: "Não diga a niguém, mas anda aqui uma enorme conspiração: estes senhores roubaram-me 30 pares de meias". Consegui transmitir-lhe alguma calma e acabamos por passear nos jardins da casa de saúde. Nessa altura fez-se certa em mim a frase de Mário de Sá Carneiro (que cito de memória) que : "a loucura é tudo uma questão de proporção aritemética".

Em boa hora a Assírio & Alvim publicou (1995) aquela que é considerada a grande obra de António Gancho, "O Ar da Manhã". Mais tarde (2007) saíu, pela mesma editora, "As diopetrias de Elisa"

Por vezes tenho saudades de António Gancho, poeta tristemente esquecido. Este homem que o pintor Alvaro Lapa descreveu como "um homem de grande lucidez poética".

Chuva na calçada

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A importância da motivação

Mão amiga fez-me chegar um texto dactilografado, cujo autor lamentavelmente desconheço. Está relacionado com a pintura, mas poderia ser extensível a todas as formas de criação. Um pouco na senda das "Cartas a um jovem poeta", de Rilke.

"Notes, 1985

20 February 1985. Of course I constantly despair at my own incapacity, at the impossibility of ever accomplishing anything, of paiting a valid true pictureor even knowing what such a thing ought to look like. But then I always have the hope that, if I preserve, it might one day happen. And this hope is nurtured every time something appears, a scattered, partial, initial hint of something which reminds me of what I long for, or which conveys a hint of it - although often enough I have been fooled by a momentary glimpse that then vanishes, leaving behind only the usual thing.
I have no motif, only motivation. I believe that motivation is the real thing, the natural thing, and that the motif is old-fashioned, even reactionary (as stupid as the question about the Meaning of Life)




"Dá-me uma mão a mim e a outra a tudo o que existe"

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Os meninos de Biombo

Friends


Saudades destes kids.

Os anos dos outros

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- Parabéns!

- Não digas isso. Já não gosto de festejar os anos. Chateia-me e assusta-me a velhice. A única vantagem é que me tratam um bocadinho melhor. Dou por mim a receber telefonemas de pessoas de quem já não esperava nada. São simpáticas, imagina! Mas isto acabou. Continuamos a ser um país de energúmenos sem emenda possível.

- Quantos anos é que faz?

- Deixei de contar. Sei que nasci em 1945, com o final da II Guerra.

- Ora o que é que vai ser ?

- Filetes com arroz de tomate para mim e dourada para este Senhor.

- Obrigado



Waiting for the barbarians

É o título da obra do nobel da literatura Coetzee. Uma pequena cidade fonteiriça de um Império sem nome em pano de fundo. A justiça e injustiça, o bem e o mal, a luta entre o império e os bárbaros é a matéria prima escolhida pelo sul africano para esta alegoria. Considerado como um escritor pós-colonial e pós-moderno, Coetzee revela toda a sua criatividade nesta obra.








Waiting for the barbarians

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Um risco na noite


Um sono que tarda em chegar. Um cigarro à janela, o barulho dos pés descalços na madeira, os livros espalhados na mesa da sala de jantar, marcados com contas da EDP. Lá em baixo, um carro deixa um rasto de luz na calçada. Afinal de contas o fim-de-semana está a chegar...

NYC - na busca de partituras




Bem sei que é uma desgraça tentar encontrar partituras para piano em Lisboa. Uma aventura inglória. Lembro-me que vasculhaste aquela pequena loja na Lexington e saiste com a alegria de quem acabou de receber as tábuas da lei. Recordo-me apenas de uma infima parte: Debussy - Claire de lune piano; Beethoven - Für Elise piano e Senza Pedale 12 Pcs. órgão. São as que me ocorrem Martim.

Petit Prince


Anne-Marie


Waiting for an angel

Um passeio nas ruinas do Carmo. Sento-me e aproveito para revisitar o "Nun'Alvares" de Oliveira Martins. Que homem foi este? Lembro-me das palavras tantas vezes recitadas pelo Duarte:"Ergue a luz da tua espada para a estrada se ver!" (Mensagem)